Duck World

Wednesday, August 01, 2007

Pata sobre rodas



Após uma manhã passada em exaustivas pesquisas num conhecido Itinerário Complementar que conduz à grande capital, dentro do seu carrinho cor-de-cabeça-de-pato-bravo, a pata chegou a casa morta, mas capaz de definir uns quantos perfis na ciência automobilística nacional. Pretende-se, com este aturado trabalho, que cada um dos leitores possa enquadrar-se dentro dos comportamentos portugueses em frente daquela rodinha simpática a que comummente chamamos volante. Anda daí e define-te perante o mundo:

O Falcão
Espécie que podemos encontrar com frequência nas estradas portugueses. No primeiro segundo o nosso espelho retrovisor está vazio, no segundo temos um ponto, no terceiro faz-nos um vôo rasante e põe-se a buzinar atrás de nós para sairmos (mesmo quando ainda estamos a tentar perceber de onde veio) e num quarto e último segundo é novamente um mero pontinho na estrada à nossa frente. Por vezes tem dificuldades em compreender que, por muito que buzine e faça sinais de luzes, separadores de cimento e árvores não se afastam para deixar passar…

O Artista de Circo
Obviamente que artistas de circo, com o devido respeito, vão desde trapezistas a palhaços. Por isso consideramos de todo o interesse destacar que o condutor “artista de circo” se enquadra melhor nesta última categoria. Daí que muitas vezes, quando eles passam, a Pata imagine um tipo maquilhado, de cabeleira e nariz vermelho, com fato amarelo às bolas cor-de-rosa a guiar o veículo.
Eles ultrapassam pela direita, pela esquerda, na diagonal e se a coisa corre mal porque há um carro a entupir a faixa por onde eles querem passar, não se coíbem de travar e passar para duas faixas à direita, tentando meter o carro naquele bocadinho de 3 metros que sobra entre o camião e a ambulância. Motivações? Pressa para chegar, porque levam encomenda que tem de chegar a horas (mesmo que chegue desfeita e misturada com um bocado de metal e do condutor sinistrado).
Geralmente, depois das travagens, ziguezagues, sinais de luzes e curvas apertadas, o “artista de circo” tem como prémio ir dois carros à nossa frente na fila.

O Capitão Cautela
Cuidadosos a nível de rigor muito elevado. Geralmente até têm bons carros, mas andam devagar, não vá aparecer algum carro vindo daquele caminho de cabras que passa ao lado da Auto-Estrada. Começam a travar um quilómetro antes do semáforo, porque estão certos de que o sinal vai ficar vermelho quando estiverem a chegar. Se for necessário são eles quem param no meio da rotunda para dar passagem ao tipo que está pacatamente à espera para poder entrar e travam sempre completamente, mesmo que venham da única estrada com prioridade no entroncamento.

O Número Perfeito
Este tipo de condutor convenceu-se, em algum momento da sua vida, que 50 era o número perfeito. Por isso, 50 km/hora, por ser um limite de velocidade tão comum é óptimo para tudo: dentro das localidades, fora delas, na auto-estrada (não interessa se é na faixa da direita, na do meio ou na da esquerda), numa estrada completamente vazia, a direito, a subir, a descer uma inclinação acentuada e até vale para passar um STOP no cruzamento a essa velocidade! O importante é mesmo manter os 50 km/hora. E se o polícia mandar parar e perguntar porque se passou o sinal vermelho lá atrás a resposta só poderá ser: “Eu, Sr. Guarda?! Mas eu vinha a 50!!”

O Justiceiro
Esta tipologia não apresenta características particulares de velocidade, nem de perícia. Quer dizer, acha que tem tanta perícia, que ele é que deve ensinar aos outros como verdadeiramente de conduz: se formos muito rápido, ultrapassa-nos e trava à nossa frente para aprendermos como é; se formos muito dev
agar apita-nos e faz sinais de luzes porque temos de andar mais depressa; se não lhe demos passagem lá atrás ultrapassa-nos por onde for possível e acelera para fazer cair o sinal vermelho que controla a velocidade; se o tentamos ultrapassar porque vai muito devagar, acelera e aperta connosco. Quando é mal sucedido geralmente acaba a ser descolado, com uma espátula, de algum muro. Quando é bem sucedido, chega a casa e vai logo contar à mulher (ou alguma criatura com quem coabite), enquanto coça o pêlo no peito ou os tomates, que o dia correu bem, porque mostrou ao outro o que é quer bom para a tosse (independentemente de ter arruinado a caixa de velocidades).

O Proprietário
Este é que manda! A estrada é dele, não interessa se há trânsito ou não, e todos têm de se desviar para ele passar, porque ele é que manda. E aí do calhambeque que se meta à frente do seu poderoso carro, porque o seu carro é o melhor! O seu carro vai a toda a parte! O seu carro é dono das estradas e arredores! Cola-se aos outros se eles não andam à velocidade que ele quer e obriga os detrás a reduzir se vierem com muita pressa. Não interessa se no cruzamento não tem prioridade ou se vem um camião, se a cancela fechou porque o comboio vai passar ou se está gente na passadeira. A estrada é todinha dele, sem complexos, sem limitações… excepto pela betoneira que vinha a sinalizar a mudança para a nossa faixa há uns bons minutos.

O Complexado
Este condutor muitas vezes cria uma auto-imagem de si muito elevada. Ou melhor, acha que os outros vão achar que ele é bom. Na verdade, este condutor apresenta uma sintomatologia muito típica de alguém que tem graves complexos, geralmente de natureza sexual. Ou está sozinho e ninguém lhe liga, ou tem vergonha das dimensões de certas partes do corpo ou possui alguma dificuldade específica no que toca à vida íntima. Por isso, nada melhor do que agregar uma parte mecânica ao seu corpo, como é o caso do carro. Por vezes também implica artilhar o carro todo e metê-lo a fazer barulho (mesmo que não ande mais depressa). Assim, ele pode meter-se com as miúdas do carro do lado, que na verdade nunca passarão disso mesmo: miúdas do carro do lado. Pode “picar-se” com o carrinho mais pequenino que ele, ou com a velhota que vai a conduzir o Audi, para depois dizer aos amigos que “deu baile” a um Audi. Esta tipologia também reúne características do perfil do Proprietário e do Artista de Circo. O problema é que quando sai do carro, todo o mundo construído nos últimos quilómetros volta a dar lugar a realidade…

O Zen (também conhecido por Piloto Automático)
Numa primeira variante, este condutor é conhecido por fazer da condução um prazer que se deve saborear a cada minuto. O problema é que enquanto saboreia a condução, as paisagens, os pássaros, a música… já a fila vai com 5 km atrás de si. Muitas vezes partilha características com o condutor do Número Perfeito.
A segunda variante deste condutor é aquele que, enquanto conduz, fuma e mete mudanças ao mesmo tempo, faz as palavras-cruzadas, barbeia-se, pinta-se, lê, faz crochet, preenche os papéis do IRS, joga Twister e, se for preciso, ainda consegue montar um puzzle. Dentro desta variante existe também o Zen Comunicativo, que consegue fazer tudo isto e ainda ir a falar ao telemóvel. Com tantos ofícios, este condutor polifacetado só peca por uma coisa: falta de mãos no volante e de olhos na estrada (coisa pouco importante, se pensarmos que o carro necessita de alguma assistência para ir de um lado para o outro).

4 Comments:

  • Estou maravilhada!:)

    Parabéns pela análise psicológica! As good as it gets!:P

    Miaus!!!

    ( "- Comentai o post Agridoce das 7vidas, jovem!", ronrona a Bxana numa tarde de sol...)

    By Blogger Bxana, at 12:07 PM  

  • A modéstia impediu-te de te caracterizares.

    Cala-te boca que actualizaste o teu seguro de vida e as boleias dão um jeitaço.

    By Blogger Carlos Diniz, at 3:51 AM  

  • Mas que análise fabulosa!
    É tal e qual!

    By Blogger Miss Alcor, at 1:40 PM  

  • Eh eh eh! Muito bom! Identifiquei-os todos, é bem verdade. Não me insiro em nenhum grupo porque não conduzo, mas se conduzisse... Seria daquelas q esticam o dedo do meio quando apanham muitos destes!
    ;D

    By Blogger Maga Ostrológica, at 1:30 PM  

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